Homenagem: Cidadão do infinito (Luiz Gonzaga Camargo Pires)

Luiz Gonzaga (à direita), em sessão solene que recebeu o Título de Cidadão Assisense

Quando estava me preparando para escrever este artigo, recebi a triste notícia do falecimento do meu grande amigo e conterrâneo Luiz Gonzaga de Camargo Pires, vítima de um enfarte em 7 de fevereiro deste ano. Assim, mais uma vez peço licença aos leitores desta coluna para prestar minha singela homenagem póstuma a esse cidadão exemplar.

Luiz Gonzaga nasceu em Ipaussu, minha cidade natal, em 1937, onde ficou até os 11 anos, quando sua família se mudou para Assis, vivendo ali até seu último suspiro.

A afinidade entre nós começou na infância, pois ele morava na casa vizinha do meu avô materno. Como era mais velho que eu três anos, teve o privilégio de conhecer meu avô antes de mim. Essa antecipação de passagem por lugares onde eu passaria depois foi sempre uma constante em nossas vidas. Quando ele se mudou para Assis, eu entrei como coroinha na Igreja Matriz de Ipaussu, na vaga deixada por ele. Com sua saída de lá, ficamos 34 anos separados, pois somente nos reencontramos em 1982, quando fui transferido para Assis.

A retomada da amizade se desenvolveu mais devagar do que gostaríamos, pois morávamos em bairros diferentes e estávamos em plena atividade profissional, voltados aos afazeres rotineiros. Dessa forma, a princípio, não tínhamos uma convivência constante. Nesse ínterim, eu fui me socializando com a comunidade assisense, frequentando os mesmos lugares e associações por onde ele já havia passado. As coincidências eram tantas que a gente costumava brincar que eu rezaria muito pela sua vida, uma vez que eu estaria tranquilo enquanto ele vivesse, pois minha morte só ocorreria depois da dele, caso as coisas continuassem seguindo o mesmo fluxo. Depois de alguns anos, começamos a nos ver com mais frequência e pudemos desfrutar da companhia um do outro. Conversávamos muito e éramos muito amigos.

Luiz Gonzaga era um cidadão de respeito, que trilhava o caminho do bem. Foi vereador no tempo em que a atividade não era remunerada e se orgulhava de poder colaborar com o progresso da cidade. Quando se aposentou dos Correios, não sossegou e abriu uma livraria, pois gostava muito de ler e de se informar. Foi homenageado pela Câmara Municipal de Assis, com a concessão do honroso título de “Cidadão Assisense”, em cuja cerimônia de entrega tive a honra de participar ativamente, inclusive discursando. Ele estava radiante naquele dia e foi um momento marcante em sua vida.

Casado com dona Clarice e pai de Adriano e Mario César, Luiz, ao completar 80 anos, reuniu amigos e familiares em uma festa deliciosa, que com certeza ficou na história de todos os que lá estiveram. Claro que também pude compartilhar deste grande momento com ele. Outro ponto em comum entre nós é que torcemos para o mesmo time, o Palmeiras. Por conta disso, ele nos denominava de Ipaussuínos ao invés de Ipaussuenses.

Pessoa de trato fácil conquistava amigos por onde passava. Não era raro vê-lo rodeado de gente, conversando na Rui Barbosa, principal avenida da cidade.  Todos gostavam de ouvir suas histórias. Falava sobre qualquer assunto e tinha uma fabulosa memória. Como trabalhou na agência local do Correio, sabia de cor e salteado o endereço de quase todo mundo. E como gostava de cantar. Soltava a voz nos corais dos quais participava.

Meu amigo e meu irmão Luiz Gonzaga, tenho certeza de que você foi muito bem recebido ao transpor os umbrais celestes e que o coral de anjos lhe saudou com efusivos cânticos, como você sempre gostou. Assim como São Paulo, ao terminar a carreira e tendo combatido o bom combate, você deve ter recebido a coroa da justiça que o justo Juiz lhe concedeu. Se você foi cidadão Ipaussuense por nascimento e cidadão Assisense por mérito, a partir de sua chegada no andar de cima, passou a ser também cidadão do Infinito. Tenho certeza que já está entre os querubins e serafins cantando louvores a Deus como você fez a vida inteira. Descanse em paz amigo, que a eternidade lhe seja um lugar de muita luz e muita paz.

Por hoje é só. Até a próxima edição se Deus quiser.


JOSÉ TOGNOLI DELLA LIBERA, Assis-SP.

Publicado na Coluna REMINISCÊNCIAS (LXVIII)

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